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terça-feira, 10 de maio de 2022

Minha querida eu

Primeiramente queria dizer ter sentido sua falta, que eu desejava estar conectada, mas que nem sempre eu conseguia. Queria dizer que sinto muitíssimo ter desviado dos nossos caminhos, Que sinto muito pelos quase nada que te fiz engolir e desentalar depois empurrando goela baixo, eu sinto pelo que não vomitei, pelo que não expeli ou comuniquei. É que tantas vezes eu fiquei sem força e realmente me achei insuficiente, mas agora eu estou aqui por mim e queria muito que essa relação funcionasse. Eu queria ser a prioridade se ainda der tempo, eu queria estar aqui pra mim. Será que dá tempo de ser meu amor? Eu sei, é difícil depois de tudo o que eu fiz comigo, depois de tudo o que eu permiti fazerem comigo. Querida eu, calma bem, não chora baby, ou melhor, quer saber? Chora sim, fala tudo, põe pra fora, exorcisa. E não volta mais lá, voa pra longe, um pássaro azul mandando Hank se foder, uma borboleta enorme e exuberante cujo casulo vazio ficou distante. Cujo céu é o limite e acredite: você não tá lá pelas suas feridas e sim, apesar delas. querida eu, aceite com sinceridade, pois depois de tudo estou voltando pra mim e espero meu perdão pra poder ficar comigo. Será que podemos consertar as coisas? Espero que não tenha desistido de mim, eu espero não ter desistido de mim e que o tempo seja aliado nessa nova fase da relação, que a gente vai rir disso com uma marguerita na mão num litoral distante. Longe dos afetos mesquinhos,das fomes emocionais, dos choros no travesseiro. Espero que me aceite de volta,não te prometo que seja perfeito, mas vamos sarar juntas, se validar e se dar total importância.

domingo, 23 de junho de 2019

Rima Cura

Em meio a tanta ausência e confusão Sem nunca ter ninguém pra segurar a mão Sigo antimanicomial, E afinal, sem ser banal. E se eu contar mil vezes a mesma história Foi mal, estão tentando deletar minha memória. Tentando fazer esquecer o que ainda Permanece aqui dentro em carne viva. Carne viva, que cura e floresce Mas que não se esquece Que derrama em rima Que passa por cima Que compõe e cria E ainda desafia. Esse é o meu legado Esse eu ficar parado Ninguém faz meu corre. E se parecer fácil Calça o meu sapato E faz do teu jeito. E se não ta perfeito Eu só to tentando consertar meu peito. De tantos pedaços É nesse espaço Que me fiz mosaico e me reinventei. Através da rima eu juntei meus cacos E não me cortei. Das podas surgem flores Entre fugas, medos e dores Repara só eu brotei. Carolina Verissimo

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Cinco Dedos, polegar opositor

Cinco dedos, polegar opositor. Eu não lembro exatamente o dia em que deixei de acreditar que eu era gente, que eu valia e que eu podia. Tampouco sei precisar o dia em que passei a me contentar com quase nada. Menos ainda eu consigo dizer o que alimentou a crença de que por algum motivo eu tinha que estar ali trocando minha alma por cigarrinhos, moedas ou mesmo elogios. A crença de que o meu lugar era aquele. E que enquanto todos estavam ali no seu momento recreativo eu estava numa árdua e inócua missão de convencê-los que eu era boa o bastante, talentosa o bastante, inteligente, interessante até que aconteceu... e eu é que acabei me convencendo de que eu não valia muito e comecei a aceitar qualquer coisa com gratidão. Não sei se a palavra é essa gratidão, acho que era mais resignação. O fato é que passaram - se os últimos dois anos sem que eu pudesse de fato enxergar o meu tamanho. Seria fácil ser simplista e culpar aqui a substância x, y ou z, afinal é isso que a sociedade, a psiquiatria e as religiões fazem todo o tempo. Mas todos ali usavam x, y o u z, ou todas e muitos mantinham trabalho e portavam cartões e faziam planos... Outros acreditavam que eram menos gente ainda. Se humilhavam por ainda menos. Mas o grande caso é que eu não sei como se deu o acontecido, não foi como se um dia eu tivesse acordado uma barata. Foi mais complexo, foi como se aos poucos eu fosse deixando de acreditar que eu era humana igual aqueles que me ignoravam ali naquelas mesas. E eu fui esquecendo de voltar pra casa, esquecendo que eu era esperada... era como se só existissem eu e as pessoas nas mesas dos bares daquela rua, daquele centro e eu precisasse da aprovação delas, dos trocados delas. Era como se a vida se resumisse a acumular abordagem bem - sucedidas e contar as moedas no final, e começar de novo no outro dia. Era como se não houvesse mais nenhum objetivo fora disso. Eu sabia que meus poemas iriam parar muitas vezes no lixo. Eu sabia que mal pagavam as cópias muitas vezes... Que alguns despejavam as niqueleiras pra se livrar o mais rápido possível de mim e voltar a falar sobre o cash e o crush. Eu sentia os olhares piedosos. Sentia os impiedosos também. Mas por qualquer motivo eu era incapaz de partir. De tentar outra coisa. Faz pouco tempo que eu olhei os dedos das minhas mãos segurando os poemas e reparei que eram dedos de gente. Cinco dedos. Polegar opositor. Que reconheci nos trajes rotos e no rosto exausto uma pessoa. Alguém que eu era, e que eu não sabia mais. Foi tanta surpresa que eu quase disse alto: Quanto tempo! E como uma criança chamei a minha mãe e confirmei com ela: Eu ainda sou gente? Ela assentiu. Eu era gente. Cansada, abusada e subestimada, mas eu era gente sim. E valia. Ela concordou de novo. Cinco dedos, polegar opositor, uma mãe, um pai, uma avó e até uma filha... Um grande universo além das transações de poesias por moedas. Não era novo porém, eu só não conseguia mais ver. Mas tudo indicava que estava ali todo o tempo enquanto eu tinha esquecido. Enquanto eu acreditei que eram outras minhas necessidades, outros valores. Como eu iniciei esse texto, eu não sei explicar como aconteceu, talvez fique conhecido entre os que contam histórias e lendas urbanas como “ O incrível caso daquela que esqueceu que era gente .” Carolina Verissimo

domingo, 26 de maio de 2019

Eu voo sobre abismos profundos

Eu voo sobre abismos profundos E profundamente lamento se você não sabe lidar. Estou acostumada as minhas sombras Então não venha agora tentar me apagar. Eu, cria da noite escura, E nasci (prematura) de uma tempestade no mar. E me modela (e perfura) Meu caráter, minha cura, eu vim de nenhum lugar. E eu crio rima pura Feito realidade dura Se não curte minha música Não a ponha pra tocar. Se não aguenta, escuta Não rotule minha conduta Afinal com que critério Que veio aqui me julgar. Eu tenho mais de sete vidas Muitas paixões esquecidas Eu lambi minhas feridas Pra fazer cicatrizar. E embora muitos duvidem Entre flores e espinhos Eu sigo meu próprio caminho E sei onde vou chegar. Nunca foi questão de sorte Nem sempre deu pra ser forte E nem pra aguentar calada, sem mudar de lugar. E de não saber ficar muda De tanta poesia cascuda A direção que se muda Não ouse desafiar. Que se depender de talento Pode mandar, eu aguento Poesia com agilidade Pra nunca desanimar.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Cuidado com aquela mulher

Cuidado com aquela mulher estranha na rua. É louca, dizem. Não aceite doces na rua. É muito perigoso. Quando o sangue escorre da tela. Em doses regulares todos os dias. E as vezes por baixo da porta. Acho que é por isso que as senhoras nos bairros Aguam suas plantas e calçadas pelas manhãs. E é por isso que a gente se esquiva tanto Daquilo que tem medo de escrever. Cuidado com a velha louca. Não saberia dizer se foi no século vinte Ou vinte um, que lhe deram a alcunha. Tampouco fazia diferença. Não lembrava ao certo quando fizera versos Quando ria nos bares Ou se teve amantes. Tudo ao certo tinha desaparecido Deus resetava a memória dos velhos por misericórdia. Excesso de lembrança e passado Deixava o rebanho agitado. Nos querem dóceis. Frágeis Magras Rosadas. E se loucas ou depressivas Nos querem calmas. Jamais histéricas Dramáticas Exageradas. Também já tinha esquecido quando chegou a loucura Se foi na menopausa, adolescência ou puerpério. Ou no festival que fora em 2007. Ou se fora quando não aprendeu a ficar sozinha E ficou. E se foram anos e dentes e amores E dizem, louca; Ela nunca superou. Quando em desespero Esvaziava as tripas Do medo de não caber Lhe impuseram bem cedo Trate de emagrecer. E desde cedo acostumada Que pra poder ser amada Ou mesmo considerada uma pessoa Tinha que merecer. Também não lembrava quando as duas opções possíveis (viver numa bolha com respiração artificial que pode ser cancerígena a longo prazo ou ser intoxicado, incinerado pelo que houvera sido um buraco em uma camada de ozônio e só sobrou o buraco) Não eram mais opções possíveis. Ela esqueceu e já não desenhava suas flores favoritas. Quando o amor se confundiu com medo; Esqueceu os passos apertados Nas horas tardias. Quando apertado em seu pescoço O silêncio quase conseguiu sufocá-la. Quase, eu disse, quase! Pois ainda que louca e esquecida Ela não deixa os outros dormir. Dizem que grita na rua Até ser contida pela força policial Metida a força No camburão Na camisa de força Metida E a força. Com sossega leão Com choque E estupro corretivo. Pra aprender o seu lugar. Carolina Verissimo

terça-feira, 9 de abril de 2019

Subversiva

Eu me orgulho em ser ofensa Ao seu senso de beleza sigo sendo insubimissa Ese já se chocou não viu um terço dessa missa. Eu rimo com 100 quilos de peso Ainda que me animalize, ridicularize. Vem e me chama de louca pra baixo. Que se a sanidade mental Exige que eu use seu espartilho moral, Eu saio sozinha desfilando minha loucura.

Destes Dias

Estava com cinco, seis,sete ou oito poemas engasgados. E fazer poesia poderia e era a maneira que eu encontrava de desobedecer, destoar e dizer que eu não concordo com nada disso. Eu ando enojada, desesperançosa e triste. Todos os dias o vazio metálico no olhar das pessoas está mais próximo. Qualquer dia me engole. Qualquer dia me alcança. Eu não sei nadar em desespero. Parecia mesmo um pouco de exagero. Cai. Levanta. Cai na choradeira. Já não tem mais força. É tarde e está sozinha. Aperta o passo ,a chave e a fé entre os dedos. Carolina Verissimo